Qual é o sentido do seu trabalho?

REFLEXÕES ALÉM DA EXECUÇÃO LABORAL

Resenha original de Adriana Baracho* 

Por que as pessoas trabalham? Qual é o sentido que atribuem à atividade realizada diariamente? À primeira vista, seria comum afirmar que todos trabalhamos em troca do retorno financeiro, que nos possibilita o sustento necessário para viver. Porém, o motivo que nos faz levantar da cama cedo todos os dias vai muito além do simples “pagar as contas”.

Prova disso é o dado apresentado pela professora Estelle M. Morin na RAE (Revista de Administração de Empresas): cerca de 80% das pessoas, quando questionadas se continuariam trabalhando caso tivessem dinheiro o bastante para viver o resto de suas vidas confortavelmente, afirmaram que sim. Descobrir o sentido do trabalho é um desafio importante para administradores, líderes e estudiosos do tema, que buscam ferramentas para manter a motivação necessária e o equilíbrio entre qualidade de vida e resultados organizacionais. 

O trabalho é inerente ao ser humano. É através dele que o homem manifesta seus valores e ideais, imprimindo sua marca no mundo. Ele faz parte da existência humana desde os primórdios e, independente do momento histórico, sempre carrega consigo um significado, um sentido. Etimologicamente, a palavra SENTIDO vem de sensus, que remete à percepção, significado, sentimento, ou ao verbo sentire: perceber, sentir e saber. Sendo assim, SENTIDO e SIGNIFICADO se relacionam, apesar de não haver um consenso entre os pesquisadores sobre a utilização dos dois termos, conforme relata Gabriela Cavalheiro na dissertação “Sentidos atribuídos ao trabalho por profissionais afastados do ambiente laboral em decorrência de depressão”.

Os estudos sobre o sentido do trabalho transitam pelas esferas da psicologia e sociologia, através de perspectivas instrumentais e críticas. Em uma perspectiva histórica crítica, pode-se dizer que o homem é um ser social e é através do seu relacionamento em sociedade que ele se liberta da alienação e constrói um sentido pessoal, através das significações coletivas.

Já em uma perspectiva instrumental, Estelle M. Morin explica que o sentido pode ser considerado em três dimensões:

“A primeira a dimensão do sensus, ou seja, a importância do trabalho, o valor do trabalho na visão do sujeito, segundo: a direção e a orientação do sujeito em seu trabalho, e os propósitos que orientam suas ações e terceiro: o efeito da coerência entre o sujeito e o trabalho que ele executa com seus valores e as ações que realiza diariamente no ambiente de trabalho” (Estelle M. Morin).

Ainda de acordo com o estudo apresentado por Morin, as principais razões pelas quais as pessoas afirmam que continuariam trabalhando, mesmo sem precisar do dinheiro, são: 

• Estabelecer vínculos e relações com outras pessoas;
• Ter um objetivo na vida;
• Evitar o tédio;
• Se sentirem úteis.

Dessa forma, percebemos que o trabalho produz sentido na vida de uma pessoa quando ela o considera útil, legítimo e importante. Quando ela sente que ele traz de fato algum impacto na vida de outras pessoas e para a sociedade. Morin descreve ainda outros 4 fatores que contribuem para que a pessoa que o executa atribua um significado a ele:

• Identidade entre o trabalho e a pessoa que o realiza;
• Variedade de tarefas, impedindo a monotonia;
• Poder realizá-lo do início ao fim, participando de todo o processo;
• Autonomia e poder de decisão;
• Recebimento de feedbacks, com o objetivo acompanhar o resultado e fazer ajustes necessários.

Modelos de gestão e liderança mais tradicionais, onde predominam a centralização, o controle e a alienação do trabalhador já não atendem mais às necessidades do mercado e sociedade. O desempenho organizacional não está mais ligado somente ao lucro financeiro, mas também ao seu propósito e resultado social. Dessa forma, é necessário que o trabalhador atribua um sentido ao ofício que executa, se encontre e se reconheça como parte importante da sua comunidade.

No vídeo “Significado do Trabalho”, Ricardo Guimarães explica porque é preciso construir um sentido para o trabalho, apresentando a mudança na mentalidade da cultura organizacional e do trabalhador ao longo dos anos. Assista abaixo: 

Podemos concluir dizendo que existe uma grande diferença entre emprego e trabalho. O primeiro caracteriza-se apenas pela remuneração financeira recebida em troca do serviço realizado. Já o segundo vai muito além, construindo um verdadeiro significado para a vida de quem o realiza, dentro de todos os fatores explicados neste artigo.

E você, tem hoje um emprego ou um trabalho? Responda nos comentários. Até a próxima!

* Adriana Baracho é Sócia-Diretora da HR Office Consultoria, Co-idealizadora do Curso Vortex e consultora especializada em Desenvolvimento Humano e em Transformação Organizacional.